1. Introdução
A glicina, historicamente classificada como um aminoácido não essencial, vem ganhando destaque na literatura científica devido à sua ampla atuação metabólica, neuromoduladora e antioxidante. Em contextos fisiopatológicos como resistência à insulina, envelhecimento e inflamação crônica, seu status evolui para condicionalmente essencial, dada a demanda aumentada pelo organismo.
Com funções que extrapolam a simples participação em cadeias proteicas, a glicina tem sido associada a melhorias no sono, na função cognitiva, no controle glicêmico, no estresse oxidativo e até na performance esportiva. O presente artigo sintetiza os principais mecanismos de ação e as evidências científicas mais relevantes que sustentam o potencial multifuncional deste aminoácido.
2. Mecanismos de Ação
A atuação da glicina ocorre em múltiplos sistemas:
- Neurotransmissor inibitório, com ação no sistema nervoso central, promovendo relaxamento e indução ao sono.
- Coagonista do receptor NMDA, modulando plasticidade sináptica e funções cognitivas.
- Precursor da glutationa, principal antioxidante endógeno.
- Modulador metabólico na gliconeogênese e no metabolismo lipídico.
- Atuação anti-inflamatória, reduzindo citocinas pró-inflamatórias como IL‑6 e TNF‑α.
3. Evidências Científicas por Categoria de Benefício
3.1 Sono e Cognição
Estudos clínicos recentes publicados na GeroScience (2024) indicam que a ingestão de 3g de glicina à noite melhora a qualidade do sono, reduz a fadiga matinal e aumenta o estado de alerta. Também demonstrou benefícios cognitivos em pacientes com esquizofrenia.
3.2 Longevidade e Envelhecimento
Modelos animais descritos na revista Ageing Research Reviews (2023) mostram que a suplementação com glicina estende a expectativa de vida, reduz inflamação e estresse oxidativo, e modula genes relacionados ao envelhecimento.
3.3 Desempenho Muscular e Recuperação
Revisões publicadas no Frontiers in Nutrition (2024) mostram que a glicina inibe genes catabólicos, ativa vias anabólicas como mTORC1 e reduz lactato durante exercícios. Apresenta potencial como agente ergogênico.
3.4 Metabolismo e Resistência à Insulina
Segundo Holeček (2025), a deficiência de glicina é comum em populações com diabetes tipo 2 e resistência à insulina. A suplementação pode melhorar a sensibilidade à insulina e modular a resposta inflamatória sistêmica.
3.5 Função Hepática e Antioxidante
A glicina atua diretamente na síntese de glutationa e na proteção contra danos oxidativos, além de ser eficaz na redução de citocinas inflamatórias. Estudos apontam efeitos positivos em quadros de sobrecarga hepática.
4. Considerações Práticas e Doses Utilizadas
Doses entre 3 a 10g por dia são as mais utilizadas em estudos. O uso noturno é preferido para potencializar os efeitos neurológicos. Não há efeitos adversos relevantes reportados dentro dessa faixa, mas doses acima de 0,5g/kg devem ser evitadas.
5. Conclusão
A glicina se apresenta como um suplemento funcional promissor, com múltiplos efeitos benéficos cientificamente embasados. Há forte evidência para seu uso como suporte ao sono, função cognitiva, saúde muscular, controle glicêmico e combate ao envelhecimento. São necessários mais ensaios clínicos robustos em humanos para validação definitiva de seus efeitos em longo prazo.
6. Referências
- GeroScience. Glycine Supplementation and Functional Benefits: A Systematic Review. 2024. Springer Nature.
- Ageing Research Reviews. Dietary glycine and longevity in mammalian models. Elsevier, 2023. Link
- Holeček M. Is glycine a conditionally essential amino acid? Nutrition Research, Elsevier, 2025. Link
- Ramos-Jiménez A. et al. An Update on the Multifunctional Role of Glycine in Muscle Metabolism. Frontiers in Nutrition / PMC, 2024. Link
- SuperSmart. Quais são os benefícios da glicina para o organismo? 2025. Link